domingo, 21 de setembro de 2014

Espelho





Me acorrentei no que me disseram
Acreditei e tive medo de indagar...
Ouvi que o sucesso vem na disciplina
E a felicidade se andar na linha...

Eu tive frio, eu tive medo
Tive dúvida e tive receio
Mas ouvi dizer que era normal
Que logo a vida iria compensar

Que eu precisaria duvidar do amor
E de tudo que parecia com ele
Que não passaria de imiscuir
De meras notas que serão esquecidas

Eu acreditei e me permitir acreditar
Mas eu sei que não duraria ... Sabe lá
Tive sede em frente ao mar
Tive fome do meu próprio eu

Não preciso seguir estes passos vazios
A chave da minha mente estava no meu coração
Precisei ouvi-lo e senti-lo
Ele estava reprimido e um pouco vazio

Eu nasci nessa regra boba
De terminar o telhado de um estrutura medonha
De dançar a mesma música e de enriquecer por ambição
De construir um império nem que seja comendo pão

Mas chega! Agora eu enxergo melhor todo esse contorno
Estou na minha janela e ela me ouve
O que está lá fora nunca foi pra me matar
O que me mata está aqui dentro, de todo esse mar

Liberdade é estado de espírito ?
Então estou a me libertar ...
Sei que vivo de roxo a vinho...
Porque corpo e alma já voltaram a conversar


Luanna Figueredo Roque 


A Girl Like You


Uma Garota Como Você
Nunca conheci uma garota como você antes
Apenas como em uma canção dos dias de outrora
Você vem bater na minha porta
Bem, eu nunca encontrei uma garota como você antes

Você me dá só um gostinho, então eu quero mais
Agora minhas mãos estão sangrando e meus joelhos estão machucados
Porque agora você me tem engatinhando, me arrastando pelo chão
E eu nunca conheci uma garota como você antes

Você me fez reconhecer o diabo em mim
Peço a Deus que eu esteja falando metaforicamente
Espero que eu esteja falando alegoricamente
Saiba que eu estou falando sobre como me sinto
E eu nunca conheci uma garota como você antes
Nunca, nunca, nunca, nunca
Nunca conheci uma garota como você antes
Esta velha cidade mudou muito
Não sinto como se eu pertencesse
Muitos cantores de protesto
Canções de protesto insuficientes
E agora você veio
Sim você veio
E eu nunca conheci uma garota como você antes



Edwyn collins 

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinicius de Morais 

Poema em Linha reta



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



Fernando Pessoa

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Brasil coisa nenhuma

Um país que pouco soube ser autêntico
Pouco soube de plantar suas árvores pra colher seus frutos
Não sei se vale a pena sentar e esperar a educação florescer
O seu espelho é o rio negro...
Um país feito de Xerox e de leis plagiadas 
Suas músicas pouco costuradas e muito remendadas
A beleza sendo mais que muita criança na rua...
E muita gente nua e crua correndo pro incerto
Acreditando no ouro a brotar em seus quintais
E naqueles que prometem a lua como enfeite  de sala
Tudo isso é quase certo, menos o carnaval
Criança odiando ler, e fugindo de conhecer
Nosso futuro ali está, bem longe de acontecer
Nossos representantes no senado bem entusiasmados assinaram 
Nosso tempo de morrer, porque logo vem nascendo
Outro trouxa pra valer...
Educação quase zero, e importância menos que a mínima
Gente gritando pra fazer uma cena, pra ver se de alguém o anima
Trabalhar que é bom quase nada, é melhor depois do seguro
Fazer das leis uma rede boa, que possa sacudir diurno
Pegar aquela cerveja de sexta e dançar em cima da agonia
De fingir que está tudo bem, esse é o Brasil de todo dia.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Lápis

Deixa minha mão desenhar
Meus riscos, minhas linhas e vai descendo...
Num contorno de imperatriz
Eu acabei me envolvendo
Deixei no ar um triz, de algo que está nascendo
Rodei os dedos e continuei a emendar
Fiz um círculo que começou a rodar
E marcou o tempo que eu esqueci de viver
Estou atrasada de amar, estou adiantada pra morrer.
O meu pincel derrubou aquela tinta meu amor
De cor nenhuma, de cheiro algum, de nenhuma textura
Limpei e umedeci os meus olhos que borraram ali
Reaproveitei aquele espaço vazio e inventei um rabisco
Fiz o seu sorriso, e contornei de idéias, de esperança.
Terminei e me vi no paraíso, meu corpo nu sem juízo
Eu sei lá porque de tudo isso, meu painel nem existia
Foi só mais um sonho lindo, que sempre me perseguia. 

Se eu soubesse

Se eu soubesse voar, não teria medo de altura
Avançaria e voaria, o mais alto... Além do muro
Pousaria na minha paz, nas minhas terras e no meu ninho
Nunca mais ficaria sozinho.

Se eu soubesse cantar, não teria medo de dançar
Pegaria aquele rapaz e arrastaria pra minha pista
Pra lá e pra cá ficaria, num chuvisco de notas
Nunca mais ficaria torta.

Se eu soubesse sorrir, não teria medo de ser feliz
Passaria a me olhar e a me desejar, no espelho de cada dia
Amarraria meu cadarço e pentearia o meu cabelo
Nunca mais quebraria o espelho

Se eu soubesse amar, não teria medo de pular
Acordaria numa manhã fria e sairia sem a blusa de ontem
Andaria de pé no chão, e pintaria mais as unhas
Nunca mais cairia no chão

Se eu soubesse falar, nunca mais me perderia
Minhas palavras tão certas de mim mesma, mas tão soltas no ar do mundo
Quem quiser faz delas um nó ou até um poço sem fundo
São sinceras as coitadas, que ninguém mais acredita.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Escada

Me encontrei
     Me amarrei
         Me olhei
             Me inspirei
 Te encarei
     Te ouvi
        Te toquei
             Te fiz sorrir
Me perguntei
    Me indaguei
        Me enganei?
           Me respondi
Te procurei
     Te achei
         Te cantei
             Te vi aqui
Me encontrou
     Te abracei
          Me amou
              Te fiz feliz


Como essa escada subindo e subindo...
 (...)
       
 Como palavras dizendo e dizendo...
(...)

Como as águas descendo e descendo...
(...)

Como meu amor crescendo e crescendo...
(...)

  

Propício

Há que vida boa é está? que me olhou e me premiou
Com esse novo trajeto, de novos planos e projetos
De costurar minha rua na sua, de pintar no seu painel
Meu nome no seu chapéu, que você mesmo escreveu

Aquela mania de acreditar que te conheço a algumas décadas
Esses laços tão fortes me deixam meia contesta
Será a trindade ou somente os caminhos ?
Até nossos bichinhos entraram nesse ninho

Cozinhar de salto alto foi lá um sonho astral
Deitei no seu sossego e comi do seu prato
Sequei o seu corpo e me enrolei nos seus pelos
O mundo estava morto mas me encontrei nos seus beijos

Te abracei e te encarei, as vezes sei do que pensa
Aquela risada meia lua, faz toda a diferença...
É sempre bom e "necessário" uma sobremesa no final
Mas com certeza já temos... Muito mais que o principal. 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Todo dia

Levantei e deixei minha alma na cama
Não quero cansa-la e muito menos levá-la comigo
Não estou sentindo o gosto do café e nem os ventos nos meus cabelos
Tem dia que eu levanto mas não acordo, que me encanto mas não demoro

Me atrasei pro nosso amor, demorei pra ver amor
Ouvi aquela música me fez melhor, me fez quem eu queria ser
Toquei em seu corpo e logo amanheceu
Tudo faz parte dessa fantasia, dessa minha mania de te imaginar todo dia.

Esse chamego todo, essa sensibilidade mútua e até meia crua
Fez aquela chuva cair mais depressa, meia contesta e sem remessa
Limpou nossos olhos, limpou nossos beijos limpou nossos medos
Ela escorreu e foi escorregando no desejo, seus dedos e seus anseios

Vamos ouvir esse estágio, esse degrau visível e calmo
De uma corrida sem prêmios, de um jogo sem apostas
Vou te abraçar a tarde toda, vou me deitar nesse desejo
Porque é muito mais que um beijo, é um amor pra todo o dia.

Pra toda noite

Pra todo...